O tempo mudou drasticamente, o vento que sobrava do litoral
trazia chuva e frio sobre mim.
Parecia
que o mundo havia congelado quando você saiu porta afora dizendo adeus.
Qual graça haveria em correr pra casa ao final do
expediente de trabalho, após um longo dia de trabalho? Você não estaria mais
lá.
Haveria algum prazer em ir assistir algum filme do momento
ou ir a um concerto de rock sem sua companhia?
Tudo parecia tão vazio e triste.
A sensação era que a casa estava enorme e que o seu
guarda-roupa, agora vazio, era uma porta para Nárnia, que gritava sua ausência.
Não haveria mais alguém para brigar por passar os finais de
semana jogando vídeo game.
A chuva começou a cair enquanto ainda te esperava na porta
de casa, as lágrimas se misturando com os pingos de água.
A tristeza tomou forma enquanto eu não via seu riso pela
casa.
Oh! Que saudades enormes de você!
Um dia pensei que poderia viver sem você em minha vida,
ledo engano!
Agora tenho certeza que será muito difícil superar sua ausência.
Andei pela casa, passando as mãos em cada um dos móveis que
você tocou, abri o armário do banheiro e vi sua loção após barba lá, você a
tinha esquecido e o seu cheiro ficaria em minha lembranças.
Sentei diante do seu vídeo game e comecei a jogar Diablo, o
jogo que você zerou diversas e diversas vezes e que ainda gostava e jogar.
Sou péssima nisso! Minha coordenação motora não permite
apertar os botões ao mesmo tempo, dando um comando que você fazia de olhos
fechados.
Deixo ligado o equipamento apenas para fazer o som pela
casa e sentir você um pouco mais aqui ao meu lado.
Os dias passam lentamente, as noites são frias e vazias,
não sinto que irei morrer, mas sinto que morri quando te vi partir.
Após horas insones, dias arrastados, decido fazer a sua
comida favorita: bife com batatas fritas.
O cheiro invadiu a casa e fiquei com os olhos lacrimejando
por sua ausência.
Comi com um nó na garganta, mas depois de dias sem conseguir
comer nada, finalmente algo desceu pela garganta afora.
Sentei no seu cantinho do sofá com um livro nas mãos, era o
mesmo que lia no dia em que foi embora.
Tentando me focar na leitura, caio no sono e finalmente
descanso um pouco.
Ao acordar observo que o livro foi para o chão e dele saia
um papel dobrado ao meio.
Era teu, uma carta de despedida:
“Mãe, não sofra, serão apenas dois anos distante de ti. Pode
parecer muito agora, mas com o passar do tempo, você verá que há outras coisas
a serem feitas em minha ausência.
Quando estiver com muitas saudades minhas sinta o cheiro da
minha loção após barba. Ou durma em minha cama.
Mas, jamais, por favor, chore pela minha ausência.
Estarei bem, cuidarei de mim. Você me preparou para este período.
E quando eu voltar, não serei mais seu menino, mas o homem que você espera que
eu seja.
Mãe, nunca te disse isso, por ter muita vergonha: eu te
amo. Amo especialmente seu riso solto e brincalhão.
Então, quando sentir minha falta ria, ria bastante de
qualquer coisa hilária.
Eu estarei pensando em ti do outro lado do mundo.
Te amo mãe”
Isto
me destroçou, chorei até cair no sono novamente, mas quando acordei em sentia
mais leve, renovada e cheia de esperanças de te rever.
Agora
quando a saudade que sinto de você aperta, começo a lembrar dos momentos mais
hilários e disparo a rir, seja onde for e perante quem for, assim os dias
voltaram a ser mais leves e sua ausência, sentida e sofrida, se torna suportável.