30 outubro 2014

Povo sem noção

Acordei cansada, depois de uma noite mal dormida, regada a chocolate e choro, onde decidi que sair da cama e tomar banho era duro demais e resolvi ficar na cama.

Mas sempre tem um infeliz pra tocar a campainha às 10 da manhã, o que para mim naquele momento representava as 5 da matina.

- Vamos Luiza, abra essa porta, preciso usar o banheiro! – Sim era a Ingrid sem noção totalmente, só os melhores amigos conseguem te encher o saco quando você está deprimido.

Abri a porta sem vontade nem de olhar pra cara dela, sai resmungando: vá ao banheiro e depois rua... hoje ninguém me tira da cama!

- Eca! Você está horrível, foi atropelada por um trem? Pior dormiu sem banho, chorando e comendo chocolates. Vai acabar gorda assim, sabia?


- Ingrid não é a toa que te chamo sem noção. Você tem ideia de que como estou me sentindo?

Antes de responder ela corre para o banheiro e na volta sai abrindo as cortinas do apê e especialmente do quarto; pra quem chorou até o dia clarear e dormiu de qualquer jeito, a ressaca era igual a de uma cachaça barata e ingrata. A cabeça doía, o corpo estava moído, e a voz dela vinha do infinito.

De repente ouvi o barulho do chuveiro e saiba que se eu não fosse livre e espontaneamente pro banho, iria de roupa e tudo, porque os melhores amigos são assim, não desistem da gente com facilidade.

Fui obrigada a ir pra baixo do chuveiro, vesti um vestido azul fresco e curto, proporcional ao calor que fazia lá fora e arrastada pra comer algo.

- Um croissant de queijo com presunto um suco de laranja, uma torrada imperial com bastante queijo pra minha amiga e pra mim...

- Pode parar não quero comer nada! Só voltar pra cama!

- E pra mim o mesmo, pois hoje vamos assassinar a dieta.

- Bem, agora que fiz os pedidos, Luiza chorona, vamos conversar. Quero saber o que rolou ontem a noite que a deixou assim. E não adianta olhar pra mim com essa cara de cachorro lambido.

A conhecia bem demais pra saber que ou era falar ou era saber que ela iria interrogar até o papa pra obter minha confissão. Mas precisava antes colocar as idéias em ordem, foquei o olhar na Lagoa Rodrigo de Freitas e respirei fundo, muito fundo antes de começar.

- Bem, vou te ajudar, tem haver com o Caio, acertei?

- Credo, Ingrid, assim, a seco, sem vaselina? Como você sabe que é ele o causador de todo esse sofrimento?

- Porque eu te conheço há uns 15 anos, vocês estão juntos pra baixo e pra cima há uns dois meses. Esse lance de amizade especial não ia rolar, né? Agora fala, o que houve.

- Eu me declarei a ele, só isto. A gente ia sair, tínhamos um show pra ir, mas eu perdi a cabeça, não segurei a onda e...

- E agiu como uma adolescente de 15 anos que ainda há dentro de você! Foi e falou tudo assim, na caruda, sem vaselina. Acertei?

- Sim...

- Respira, inspira e não pira. Calma, tome um gole do suco. E conclua, como você falou, assim cara a cara? Via whatzap? Como foi?

- Enviei uma mensagem de texto pra ele via Facebook ontem a tarde. E desde então, estou esperando uma resposta dele.

- Deixa eu ver a mensagem, vai me dá ai.



Como ela era intrometida, céus! Só eu pra aturar essa criatura. Mas sem reclamar passei o Iphone pra ela. As caras e bocas que ela fazia enquanto lia, me fazia recordar cada linha do que havia escrito:

Caio,
Desculpe. Primeiramente saiba que estou morrendo de vergonha de escrever isto. Mas eu decidi me afastar de você.
Tomei a decisão e pretendia fazê-lo aos poucos, quase de forma imperceptível, mas não dá, desde que você falou comigo de manhã a cabeça está girando, o coração está na boca e eu estou remoendo tudo isto.
Não dá, não consigo mais ficar perto de você. E definitivamente o que eu aprendi com o coach é usar o TBC. Estou afim de você, queria muito mais do que simplesmente amizade, mas não é o que você quer, não é o que você espera ou deseja.
E eu respeito.
E eu já passei da idade de ficar brincando de gato e rato com meus sentimentos. Desculpe, mas estamos em sintonias diferentes e eu estou me machucando. Neste momento estou jogando a toalha pra não me machucar mais e me afastando de você.
Desde quinta-feira tenho ponderado muito sobre isto e decidi que não dá pra gostar de você e ficar perto como amiga, então, decidi me afastar de você.
Por favor, não precisa nem responder, porque eu já sei qual vai ser a resposta e no momento já basta o que está indo dentro de mim.
Bjs e saiba que sempre vou torcer por você”.

- Eu não acredito que você falou isto? E depois eu sou a sem noção, boca solta? A loka dessa amizade? É isto mesmo?

- Para Ingrid, assim eu vou embora e me devolve essa porcaria de celular.

- Num vai a lugar algum sem comer nem que seja o croissant inteiro e o suco de laranja também.

- Te odeio, sabia?

- E eu te amo minha loka certinha da vida! Mas eu N.Ã.O acredito que você fez isso! Afinal de contas vai perdeu um amigo. – pausa pra ela respirar e pra eu comer alguma coisa, mas antes que eu pense em algo pra mudar de assunto... - ...aquele corrimão de boate metido a gostosão. Quem ele pensa que é pra usar você assim e...

- E o que criatura? Pode xingar de todos os nomes porque eu já o fiz e ainda estou fazendo. Eu sei que a anta dessa vez fui eu e não você. Além do que eu..

E de repente senti o perfume dele, perfume batido, o conhecido CK1 parando ao meu lado e entendi porque ela abriu a boca e não fechou mais.

- Luiza, precisamos conversar, você não acha? Oi Ingrid, tudo bem?

Ingrid saiu mais rápida do choque do que eu e já foi disparando:

- Oi Caio, como você nos encontrou?

- Por meio do GPS do celular da Luiza, esqueceu que ela o mantém ligado direto e que eu tenho acesso a ele?

Cara de pau! Eu tinha me esqueci disto e preciso fugir agora. Pensando seriamente em me jogar nas águas da Lagoa, mas é tão poluída...

- Luiza, vamos conversar? Ingrid você nos deixa sozinhos só por uns instantes? Pode ficar aqui por perto, termine seu café em outra mesa, prometo que pago o seu café da manhã.

Ele se senta diante de mim, a bermuda solta e a camiseta amassada diziam que ele tinha passado uma noite um tanto difícil quanto a minha.

- Luiza, será que você não notou que eu estou há dois meses tentando me aproximar de você, mas que você nunca deixou? Nunca deu brecha. Imagina qual foi minha reação ao desistir de você, receber essa declaração sua? – tentei cortá-lo, mas ele não deixou – Não, não, não me interrompa, apenas escute.

- Cara, sou doido por você desde que te vi naquela festa da turma da faculdade, seu jeito de menina, risonha e divertida me conquistou. Você acha mesmo que entre as demais que o corrimão de boate aqui pegou (sim, eu ouvi essa!), eu não iria preferir você? Já que estamos na mesma sintonia me dá uma chance? Me deixa provar que eu não quero você somente como minha amiga especial. Hein?  O que acha?

Não tenho como responder, pois o beijo que ganho foi o melhor e mais esperado que tive em anos.

Ao fundo escuto a sem noção da Ingrid assoviando e pedindo pros garçons fazerem coro as palmas.


E assim uma nova fase começa em minha vida. Só que agora sem sabotar dieta comendo chocolate a noite inteira e aproveitando cada minuto ao lado de quem eu estou realmente afim.

3 comentários:

  1. Já falei mas vou repetir, ameeeeeei esse texto. Principalmente a parte da amiga louca e sem noção ahuaiauaiaiiaiia. Adoro seus textos, sua criatividade. ♥

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  2. vc é muito criativa , adorei o texto :)
    http://uaifia.blogspot.com.br/

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  3. Muito legal o texto! Muito bonitinho o blog.
    Obrigado por visitar o meu! ^^ Beijos.

    www.jessalem.blogspot.com.br

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