-
Linda, sei que temos diferenças, sei que minha mãe te magoou, hoje sei o quanto
minha atitude no passado te magoou, mas eu não quero mais brigar. Não tenho
mais forças pra isto.
Sei
que você olha pra mim como um caçador e um homem de negócios – frio e
calculistas. E até às vezes sou mesmo, devo admitir. Mas tem algo que precisa
entender, eu amo Sophia e mudaria o mundo por ela. Na verdade estou mudando meu
mundo por ela. E, sinto te informar, o seu também.
-
Como... como assim? - Fiquei preocupada, com receio do que ele poderia estar
aprontando.
-
Calma, eu sei que você anda agoniada pensando em duzentas mil possíveis coisas que eu poderia fazer.
Como
disse não pretendo me separar dela ou ela de você. Mas não posso permitir que
continuem morando naquele apartamento. Ele é confortável e tudo mais, mas não
quero mesmo, pois ele não tem segurança alguma para proteger a Sophia. Você
sabe que ela entrou na mídia, um prato feito para bandidos e inimigos. E tenho
que protegê-la, é o meu dever de pai.
-
E o que você está pensando fazer?
-
Ela vai morar na minha casa. E você também. Você poderá ir como desejar, mas
queria... – ele parou e respirou, ficou me olhando, analisando e eu sabia que o
que viria depois seria difícil pra eu digerir.
- Quero
que venha morar na minha casa como minha mulher, quero que case comigo.
-
Como... como é que é? – Minha voz parecia um som engasgado, só sabia repetir
isso? O que ele queria como tudo isto? Me matar do coração? Não tinha mais
forças pra lutar com ele.
-
Eu quero paz, paz na nossa vida. Paz para a Sophia, paz para nós. Somente não
quero mais brigas, discussões, viver essa incerteza do amanhã com relação a
ela. Eu não quero te obrigar, não quero que se sacrifique mais, mas não posso
permitir que as coisas continuem como estavam. Tem muito mais do que meus
sentimentos e os teus agora em jogo.
-
Que proposta mais absurda! Você tem ideia do que me pede? Ficar ao teu lado ao
mesmo tempo sendo só? Sem possibilidades de arrumar alguém, de ser feliz de
novo?
-
Te proponho a construir uma vida comigo. Há amor entre nós? Não, somente o que
nutrimos pela Sophia e isto pra mim é o que me basta. Ela é tão importante para
mim que sem pensar duas vezes terminei o namoro que mantinha há 2 anos. Sabe
por que ela é tão importante pra mim?
-
Não. Não sei nada sobre você. Na verdade sei apenas o que sai na mídia de vez
em quando.
-
Vou te contar algo sobre minha família, é meio que um segredo nosso. Minha
família evita tocar no assunto porque sofri muito no passado por causa disto.
Sentei
no sofá, e ele sentou ao meu lado. Segurou minhas mãos em quanto falava,
brincava com meu anel de forma distraída, era visível que escolhia as palavras
para me contar.
-
Minha mãe é de origem humilde, bem pobre. Ela mal conseguiu concluir o curso de
normalista. Começou a dar aulas em escolas públicas pra poder se manter, já que
mina avó tinha 5 filhos e os sustentava como lavadeira.
Só
que minha mãe também sempre desejou a riqueza, o ouro, a fortuna, o dinheiro. E
não perdeu a oportunidade quando conheceu meu pai.
Um
homem rico, sem escrúpulos, dono de negócios duvidosos, de gênio forte, mas
extremamente controlado. Apesar do medo que eu nutria por ele, nunca o via
levantar mão para mim ou para minha mãe. Mas era obrigado a ouvir com
frequência que ele tirou minha mãe da sarjeta.
Depois
de anos de brigas e discussões, ela resolveu voltar a estudar, montou o
próprio negócio e começou a enfrentar meu pai. Eram brigas e mais brigas dentro
de casa, praticamente não tinha paz.
Eu
cresci largado, primeiro criado pela babá, depois no colégio interno que foi um
inferno pra mim. Não raro quando voltava pra casa, as brigas me faziam desejar
voltar pro colégio e lá ficar.
Por
outro lado, não sei quantas vezes nas festas de fim de ano fui esquecido em
algum canto da casa, esperando por um carinho, um abraço, um pingo de atenção.
Só que as visitas sempre eram mais importantes que eu aos olhos de minha mãe,
que sempre transformava estas ocasiões em reuniões de negócios e estrelismos.
Aos
17 decidi fugir de casa com minha primeira namorada. Vivemos momentos lindos e
intensos. Até que ela descobriu que estava grávida, correndo risco de perder o
bebê e eu trabalhando como frentista num posto de beira de estrada no interior
do país.
Desesperado,
liguei pra minha mãe, e tive que engolir o orgulho ao ouvir que me aceitava de
volta, mas sem a garota ou o filho – que era nova demais pra ser avó!
Contra
a vontade dela, voltei pra casa com a garota e nossa vida foi inferno por uns 3
meses seguidos. Até que no meio de uma discussão com minha mãe, minha namorada passou
mal, caiu da escada, perdeu a consciência e veio a falecer no hospital.
-
Nossa, Alessandro, eu não fazia ideia, eu...
-
Sem problemas, como disse este é um assunto que não me orgulho nem um pouco. Mas
por conta disto, fiquei arrasado e me fechei. Deixei meu pai resolvendo todo os
problemas com relação ao trágico acidente. E comecei a trabalhar e estudar.
Fazia de tudo pra não pensar naquela garota e naquela criança.
Bem,
você sabe, o tempo se encarregou de fechar algumas feridas e me tornou como
você e muitos pensam ao meu respeito: duro, fechado e um caçador. De fato sou
um tanto assim, admito, mas também sou um homem que viveu os últimos 23 anos a espera
de colocar um filho em meus braços.
-
Quando entrei neste quarto e vi Sophia, me vi nela, e me vi sento pai depois de
tantos anos. Te contei isto, não para que sinta pena de mim, não preciso disto. Mas para que
entenda que quando você me contou da Sophia, o lado prático entrou em ação. Mas
quando eu a vi, eu me vi nela, me vi nos olhos dela. E me apaixonei e me senti
pai, vivo de novo.
Não
quero que ela passe por um terço do que passei. Por isto te propus casamento. Quero
que ela tenha paz, tenha uma família. E prometo uma coisa a você, vou sempre te
respeitar, e do meu jeito aprenderei a te amar. O que você acha? Podemos dar a ela tudo que sempre eu desejei ter e não tive:
amor, carinho, família?
Fiquei
olhando pra ele, minhas mãos em suas mãos, ouvia a respiração de Sophia
correndo solta e tranquila, sentia que a vida estava me dando uma nova
oportunidade. E mesmo sem ser amada, sabia que eu podia tentar.
-
Ai Alessandro! Deveria dizer não. Negar isto a você, seria negar isto a ela
também. Provavelmente vou me arrepender
amanhã ou depois, mas sim, eu te digo sim... mas tem uma condição.
-
Qual?
-
Outros envolvimentos – teus ou meus – deverão ser em segredo pra que ela não
sofra.
-
Impossível. Minha mãe tem vários defeitos, mas uma qualidade que me ensinou e
transferiu: fidelidade. Você será somente minha e eu somente seu, mesmo que
venhamos a dormir em quartos separados. Pode ser assim?
-
Vou me arrepender amanhã ou depois; mas cansada, carente e preocupada com o
futuro: sim, aceito seus termos – com quartos separados e aliança no dedo.
-
Aliança, bolo, festa e papel assinado; terá tudo isto e ainda será a dona da
minha casa. – Falou e abriu o sorriso como que querendo pedir paz.
Não
pude negar a paz que ele propunha e que eu sabia que era o que minha filha
tanto desejava. Eu sabia que a dor e o sacrifício que teria que fazer seriam enormes, mas estava disposta a tentar a ter paz daquele momento em dia. Mas seria mesmo assim?
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