O Sonho de Isabella
Itália meados de 1880
A chuva caía fria naquela segunda
feira. Isabella olhava a janela de seu quarto. A treliça lhe permitia ver sem
ser vista. Em plena tarde pessoas vestidas de todas as cores passeavam pelas
ruas de Veneza. Isabella fora levada pra lá há dois dias. Não conhecia a
cidade. Não conhecia nada além de seus aposentos e os jardins da casa de seus
tios Lorenzo e Maria.
O primo há muito partira e nunca mais dele se ouvira falar. Havia boatos que se casara com uma francesa. Sua tia a criara como filha, mas não ousara desobedecer às ordens de sua mãe.
Isabella jamais poderia deixar a casa, aparecer em público, nada. Sua vida era reclusa e se resumia a nada. Observou mais um pouco e fechou a janela. Chamou sua prima Eugênia para lhe fazer companhia.
O primo há muito partira e nunca mais dele se ouvira falar. Havia boatos que se casara com uma francesa. Sua tia a criara como filha, mas não ousara desobedecer às ordens de sua mãe.
Isabella jamais poderia deixar a casa, aparecer em público, nada. Sua vida era reclusa e se resumia a nada. Observou mais um pouco e fechou a janela. Chamou sua prima Eugênia para lhe fazer companhia.
− Bella!! Estou tão empolgada
para hoje a noite.
− Posso ver. Esse é seu segundo
carnaval, mas é o primeiro em Veneza, não?
− Sim e estou tão feliz.
A empolgação da prima a fazia sonhar cada vez mais com uma chance de ter uma vida normal, poder
flertar. Eugenia tinha apenas dezesseis anos e já beijara vários rapazes. O tio
em breve arrumaria um marido para ela. Isabella já estava com quase vinte e
nunca sequer vira um homem que não fosse seu tio ou um dos criados. Tivera uma
paixonite com o filho do jardineiro quando estava com quatorze, mas seu tio
tratara de matar os sonhos dela e do rapaz. Passara então a ser vigiada com
mais afinco. Saindo do devaneio abriu a janela e chamou a prima.
− Olhe os foliões, tudo tão
lindo.
− Bella, olhe aquele ali, acha
que ele está nos vendo?
− Onde?
− Ao lado daquele vestido de bobo
da corte, o que está sem máscaras, ele parece olhar nossa janela.
Entrando no recinto tia Maria
olhou também.
− Vocês não deveriam estar aqui,
e não deveriam estar olhando pela janela. Principalmente para aquele homem – repreendeu a tia fechando a
veneziana.
− Quem é ele mãe? – perguntou Eugenia
curiosa.
− É um inglês. Duque de Albany,
não me lembro o nome dele. A mãe era Italiana, de Borgonha. Ele tem terras e
diversos negócios em toda a Itália. Dizem que matou os dois irmãos para
conseguir o ducado. É um filho bastardo que foi reconhecido pelo pai depois que
este já tinha seus herdeiros legítimos. Misteriosamente, após isso, os dois
irmãos morreram. Ele foi nomeado herdeiro mas não é aceito nas altas rodas
londrinas, então ele diz que prefere a Itália, – suspirou − também preferiria se
fosse ele.
− Coitado. – disse Isabella com
ar desconsolado.
− Coitado?! – enfatizou a tia –
ele é problema. Onde vossa majestade o Rei Humberto está, ele está atrás. São
amigos pessoais. Ele cheira a problema. Fiquem longe dele.
− Como eu nunca saio dessas
quatro paredes, acho pouco provável que chegarei perto o suficiente para ter que manter a distância – ironizou Isabella.
− Não dessa vez. Você vai ao
baile de máscaras essa noite. Sua mãe mandou vestidos e acessórios. Ela não
estará presente, mas pediu pra eu apresentá-la como uma parenta distante que
perdeu a família e tem um dote. Parece que sua mãe quer vê-la casada.
− Desde que eu não apareça como
filha dela.
− Sua mãe é uma cortesã. O que
você esperaria? Ela sempre protegeu você de tudo e de todos. Ela poderia
tê-la mandado a um convento, mas não o fez.
− Pensei que não a suportasse, tia.
− Pensou certo. Mas não tiro o
mérito dela como mãe. Foi difícil não deixar ninguém saber de sua existência, você
ficaria para sempre marcada. Bem, vistam-se. Estejam prontas as oito. Não
tolero atrasos.
Sua tia saiu do quarto fazendo com
que Isabella corresse para a janela, mas o homem não estava mais lá. Sentou-se
na cama confusa. Por que isso agora?
− Eugênia – chamou.
− Sim?
− Já viu um anjo?
− Você perdeu
o juízo? Anjos ficam no céu, nós não os vemos.
− Não sei.
Queria que um anjo aparecesse para mim.
− Você lê
demais, isto sim. Precisa parar de ler um pouco e tomar mais ar fresco.
Mas Isabella
continuou olhando a bagunça da rua. Estava perdida no pensamento de um
homem de olhos negros.
Joseph
Hatfield olhou para seu amigo Giovanni e perguntou:
− Quem é a
garota atrás da treliça?
− Não vi.
Aliás como você viu por trás da treliça?
− Não sei. Só
perguntei. Parecia exótica, com grandes olhos claros e uma perfeita boca
vermelha.
− Você está
bêbado. Essa mulher provavelmente não existe. Vamos voltar pra farra que ainda temos que nos
apresentar à festa na casa de Joana.
− Não quero ir.
− Humberto se
sentirá ofendido se não formos.
− Tem razão, tenho que ir.
Vamos, então.
Olhando mais uma vez pela na janela, o Duque de Albany partiu.
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