12 novembro 2012

Cronicas da Meia Noite -MARCELA.

Se você olhasse para Marcela, com certeza não dirigiria um segundo olhar. E talvez se dirigisse seria de pena. Aquele tipo retraido que no colegial costumamos rir. A noção de moda simplesmente não existia. Usava sempre as mesmas saias embaixo do joelho, os mesmos blusões que faziam seu corpo magro sumir. O cabelo, grande e liso, escondia um rosto miudo de olhos grandes. Maria Marcelina era um desastre. A beleza jamais pensara em lhe conceder nenhum atributo. A educação rigida que recebera dos pais fez com que aos quinze anos abandonasse os estudos. Era tempo de trabalhar e se preparar para casar. A mãe dizia que a filha jamais arrumaria um marido com sua desastrosa aparencia. E assim foi. Ela como se num prenuncio do destino permaneceu solteira.
Freira. Essa era a unica solução cabivel na cabeça dos pais. Mas quase como por um milagre alguem apareceu para salva-la da sina de permanecer seca. Um velho viuvo afinal precisava de alguem que tomasse conta dele e dos filhos que a esposa nao dera conta de criar. Ninguem perguntou à Marcela se ela desejava de fato esse casamento. Mas porque fariam? Nunca antes ninguém perguntara nada a ela. Sua timidez por vezes foi confundida com retardamento mental. O pai decretara que assim seria e foi. Se mudou para a casa do marido logo após o casamento. Esse não tivera consideração ou respeito pelo seu corpo. A noite de nupcias se transformou num pesadelo, quando seu corpo foi brutalmente violado, e  se não fosse aquele papel que concedia ao marido o direito aquela violação, poderia ate mesmo dizer estuprado. Sua virgindade foi tirada com muita dor e nenhum prazer. Onde estaria os sonhos romanticos que toda menina tem de seu principe encantado? Marcela não o possuía mais. Aquela transgressão que se tornara diaria no seu corpo matara todos os sonhos dela. Um ano depois e a situação piorava visivelmente. O marido descontente porque ela sendo jovem e saudavel nao tinha ainda engravidado começou a espanca-la. Sua revolta crescia ainda mais. Ele ja tinha seis filhos dos quais quatro ela cuidava e um que tinha os mesmos dezoito anos que agora ela tinha. Porque seu marido a torturava por mais? Ela so fazia lavar, passar, cozinhar, limpar tudo e a noite ainda tinha que aguentar as agressões do marido. Contara à sua mãe que lhe informara que o mesmo tratamento recebia de seu pai. Sentia-se sozinha e perdida num mundo do qual sabia que jamais pertenceria. Aquilo foi se tornando um monstro dentro de marcela. Um monstro que estava pronto para explodir. Ainda demorou um ano mais para que esse monstro explodisse. Mas por fim ele veio. Apenas com a roupa do corpo e alguns trocados que havia meses ela conseguia roubar do marido, ela rumou para a rodoviaria mais proxima. O dinheiro nao dava pra comprar uma passagem para um lugar distante, e ela jamais se arriscaria a ir para algum lugar perto. Tentou vender a aliança de ouro em seu dedo. Mas ninguem parecia disposto a comprar. Dentro dela crescia um sentimento tao grande de decepção e agonia. Logo notariam a falta dela. Logo seria obrigada a voltar para a vida de abusos e surras. Sentou- se num canto e começou a chorar. Ela não havia pedido. Mas o milagre veio mesmo assim. Vestida numa roupa extravagante com um salto no qual Marcela tinha certeza que jamais usaria alguem lhe estendia a mão. Marcela não sabia o porque de um homem vestido de mulher tentava lhe ajudar, mas com muito desespero contou a ele o porque queria fugir. Ele informou-lhe que se chamava Andrea. E que iria ajudar-lhe. Sem nem mesmo pensar. Ela entrou em seu carro e partiu. Depois de estar la varias incertezas se apossaram dela. Mas ela sabia que estava indo pra longe. Pra muito longe de tudo aquilo. Quando chegou a uma casa linda na capital do estado. Tomou um banho e dormiu. Por duas noites dormiu sem somjos e o melhor. Sem surras. Por um mês trabalhou naquele lugar. Mas estava estramente feliz. Aquela casa abrigava dois travestis e quatro mulheres. Mas não era um bordel. Todas as garotas tinham seus clientes mas a regra numero um  era nunca trazer um cliente pra casa. Ali aquelas pessoas criaram um lar. Marcela tinha uma visão bastante deturpada daquele tipo de gente ate conhecer Andrea. Se surpreendeu quando no fim do mes aquelas pessoas que a abrigaram, lhe deram casa e comida ainda lhe pagaram um salario. Nao conhecia a palavra salario. Nunca trabalhara. Ela não quis aceitar. O que iria fazer com dinheiro? Comia tudo o que queria naquela casa. Ganhara algumas roupas das meninas. Embora grandes demais pra seu tamanho mignon ficavam perfeitas no comprimento pra ela. Embaixo dos joelhos. Nunca usara calças ou shorts. Somente saias. Mas o dinheiro estava ali. Ela saiu e resolveu comprar presentes para aquelas pessoas. Comprou uma coisa pra cada um. Então Andrea sugeriu que ela usasse o dinheiro pra mudar um pouco. Um corte de cabelos bem repicado e um shampoo anti-oleosidade resolveram o problema do cabelo. Roupas justas e mais curtas transformaram um corpo magro e desajeitado em sensual. Maquiagem e bijuterias completaram o visual. A patinha feia virou um cisne. Logo ela entrava num mundo novo. Não demorou a aparecerem clientes. E ela descobriu um poder incalculavel através do sexo. Homens eram apenas iscas nas mãos habilidosas de uma mulher. E as habilidades dela foram melhorando. Aos poucos se transformou numa das melhores prostitutas da região e gostava daquilo que fazia. Esqueceu a velha vida subjugada e entre rendas e paetes ela arrasava em cada cama que ela passava. As vezes aceitava dois ou mais homens em sua cama. Era insaciavel. Ela tinha agora uma nova vida. Um dia andando pela avenida principal ela se depara com um cartaz de procurado e viu sua foto nele. Ao lado uma vitrine espelhava sua figura atual. Arrancou seu cartaz da parede e pôs fogo. Maria Marcelina estava morta. Aquela Marcela da vitrine era  outra e jamais deveria permitir Maria Marcelina voltar. Entrando no seu carro ascendeu um cigarro e voltou para casa. Sua casa. Com Andrea e as meninas. Seu lar.


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