Nervosa,
sentindo as borboletas no estômago, cheguei ao hotel as 9:15, usando um vestido
azul marinho, simples, com decote canoa na frente e um quadrado nas costas
arrematado com um laço simples, um pouco acima da minha cintura. Usava o colar
de pérolas que minha avó tinha me dado e trazia tudo dentro de uma pequena clutches.
Coloquei um salto alto preto, discreto. E para minha surpresa vi os olhos dele
brilhando ao me analisar debaixo acima.
-
Você está maravilhosa. Este tom de azul realçou sua pele e te deixou mais linda
do que já é.
-
Obrigada. E desculpe o atraso peguei trânsito até aqui.
-
Onde você mora? Depois desta pergunta engatamos numa conversa animada, falando
sobre amenidades. O jantar servido foi simples, mas delicioso. E ele era uma
companhia muito agradável.
Imaginava
um homem sacana, duro, cheio de si, que se sentia o dono da verdade. Mas
descobri um companheiro muito alegre, de boa conversa e que tinha paciência em
me ouvir. Quando dei por mim já era quase onze da noite e nem tinha notado.
Quando abri a boca pra pedir desculpas, e dizer que precisava ir embora, ele
tirou uma caixinha de veludo de dentro do bolso do blazer, colocou na minha
frente e disse:
-
Eu te devo um pedido de desculpas, não respondi teus e-mails, não retornei tuas
ligações, pois este mês que passou foi um caos pessoal. Perdi meu pai, muitas
coisas dentro das empresas aconteceram por conta disto, já que ele era meu sócio
em quase tudo e o mais importante, imaginei que você estava se oferecendo pra
mim.
-
Como é?
-
Não me entenda mal. Isto já aconteceu tantas vezes que criei mecanismos de
defesa. Mas ontem quando te vi, vi que você mal me notou e observei que você
estava sendo apenas profissional. Vi que te julguei mal, muito mal e que devia
um pedido de desculpas. E preciso q me desculpe pelo mau juízo que fiz de você.
É possível?
-
Sim, te desculpo. Mas da próxima vez, mande sua secretária responder as
perguntas, atender ao telefone e tudo mais. Assim, nem você e nem eu ficaremos
em saia justa, correto?
-
Haverá outra vez? Iremos nos encontrar mais vezes?
-
Não sei, mas sempre presto serviços para aquela empresa. Então, se você for
palestrar pra eles mais vezes...
-
Ok, isto tem lógica. Tome, abra o presente. É minha forma de pedir sinceras desculpas
pelo ocorrido.
-
Ah, não precisava... mas ainda assim, curiosa, estiquei o braço e peguei a
caixinha de veludo preta. Havia um laço em cima muito lindo. Abri com todo
cuidado e, para minha surpresa, lá dentro estava o par de brincos que eu tanto tinha
gostado.
-
Vi você olhando estes brincos, vi seus olhos se encantando com eles e fiquei
pensando em como ficariam lindos em você. E combinam perfeitamente com seu
rosto, com seu olhos que são verdes azulados e com sua pele clara.
-
De fato, ontem eles eram perfeitos e hoje o são. Mas não acho certo ganhar um
presente desses. Eles são caros, e aonde eu iria usá-los? Quase os comprei
ontem, mas depois mudei de ideia.
-
Coloque-os para mim, deixe-me ver o brilho deles no seu pescoço.
Fiquei
pensando que aquilo era uma cantada, mas resolvi não questionar e calei-me. Afinal,
iria embora rapidamente e seguiríamos caminhos diferentes Coloquei os brincos,
sentindo os olhos dele em mim. Senti que estava sendo analisada, dosada. E era
tão bom isto! Fazia muito tempo que não me sentia desejada e isto fez bem para
minha alma.
-
Linda, porque você está sozinha? Desculpe te perguntar isto, mas você faz jus
ao nome. Além do mais é uma mulher inteligente, espirituosa e batalhadora.
Pega
de surpresa, não pensei em esconder a verdade, respondi de imediato e quando me
calei, me arrependi:
-
Era casada até 5 anos atrás. Tinha meu próprio negócio e uma vida simples, de
repente meu marido achou que uma mulher mais jovem seria mais interessante do
que eu resolveu partir, levando nossos bens. Tive que recomeçar do zero e agora
estou aqui, batalhando pra manter este novo negocio em ordem e funcionando
perfeitamente. E o filho que eu sempre sonhei em ter, ele resolveu ter com ela,
pois para mim, nunca houve tempo! – Parei e respirei... Ufa! Desculpe saiu em forma de desabafo. Não
pretendia fazer isto, mas o vinho soltou minha língua.
Ele
abriu a boca pra responder, mas não deixei, aproveitei e disse que precisava ir
embora.
-
Tenho que trabalhar amanhã e de fato preciso ir embora, se importaria se formos
agora? Além do mais o vinho soltou minha língua, já falei mais do que devia e
agora estou meio que envergonhada pelo que falei.
-
Claro que não. Vamos sim.
Quando
chegamos no saguão do hotel vimos que a chuva cai torrencialmente sobre a
cidade, preocupada em não achar um táxi para poder ir pra casa, aceitei a
carona dele de volta pra casa.
Foi
um percurso agradável, onde falamos sobre amenidades. Sentia o calor e o cheiro
dele dentro do carro. Cheiro amadeirado e, como o vinho, estava me embriagando.
Com esforço consegui manter a distância e não falar mais nenhuma sandice.
Quando
chegamos na porta do meu prédio a chuva caía tão forte que eu mal conseguia
sair e antes mesmo que eu pudesse me despedir uma árvore da rua caiu sobre o capô do carro
dele.
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