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Linda. O que você está fazendo... e vi as palavras morrerem na boca dele ao
olhar para meu ventre. Minhas mãos estavam apoiadas calmamente sobre o ventre,
já volumoso, e isto chamou mais a atenção dele.
-
Linda. Como assim? O que você tem pra me dizer? O que você faz aqui? Não podia
ter enviado um e-mail?
-
Oi Alessandro, estou indo ver uma loja de roupas aqui perto. E por que deveria
te procurar? O que eu teria pra te dizer? Nossa depois de tanto tempo, te
encontro assim na rua ao acaso e você faz estas perguntas... Que coisa mais
estranha. Menti descarada e rapidamente, tudo para esconder a ferida que as
palavras dele causaram.
-
Desculpe, somente é que me assustei ao te ver grávida. Não esperava por isto.
E, pensei que...
-
Pois pensou errado senhor sabidão! Sua conta desta vez não vai ser fechada,
certa. Ok? Desculpe, mas estou mesmo com pressa, ainda tenho muito o que fazer.
Mas foi bom reencontrá-lo e saber que está bem.
Sem
dar nenhuma outra oportunidade a ele, sai e andei o mais rápido possível, nem
prestei atenção que estava indo pro caminho errado e somente me dei conta disto
quando me vi muito longe do meu trajeto. E muito menos vi os olhos tristes que
me seguiram pela multidão...
Andava
e lamuriava. A atitude dele foi tão desprezível, que gelou meu coração. Sentei
a mesa de um café e por lá fiquei horas a fio pensando e meditando no encontro
inesperado que tivemos. Mais decidida fiquei a não contar a ninguém quem era o
pai de Sophia.
Assim,
cai no trabalho e não me permiti a pensar em Alessandro. Quando chegava hora de
dormir estava tão exausta física e emocionalmente que deitava e desmaiava.
Entrei num ciclo virtuoso para não mais pensar nele e na dor que o olhar dele
me causou naquele dia.
Faltando
3 semanas para completar 9 meses de gestação, cuidando da produção de um mega show,
cai da escada no palco. Imediatamente senti uma fisgada horrível e a bolsa se
rompeu.
Foi
um corre-corre, ninguém esperava por isto, muito menos eu. Mas tudo correu bem
e a minha linda Sophia nasceu no dia 03 de setembro. Linda, loirinha e com os
olhos do pai - extremamente azuis.
Cada
gesto, cada ato, cada palavra dela me leva a crer que eu nasci para ser mãe!
Não havia madrugadas perdidas, não havia choro desnecessário, tudo era motivo
de gratidão e beleza pra mim.
As
primeiras semanas foram complicadas, pois era marinheira de primeira viagem,
tive a oportunidade de contar com a presença de minha mãe ao meu lado nestes
dias e aos poucos fui aprendendo a lidar com aquele ser tão lindo.
Admirada,
me via fazendo festa com cada nova descoberta: a primeira palavra, o gatinhar
pela casa, a bagunça que era capaz de fazer (e como um ser tão pequeno consegue
fazer tanta bagunça?), os primeiros passos, o primeiro dia na escolinha, onde
eu chorei horrores e ela ficou rindo e dando tchau pra mim.
Os
anos foram passando, não tinha mais tempo em pensar em novos relacionamentos,
minha vida se resumiu a trabalho e a Sophia. Às vezes no cair da noite, quando
a casa entrava no silêncio, e restava apenas eu, me punha a recordar aquele dia
tão especial ao lado de Alessandro.
Uma
ou outra vez o via a distância, ou em alguma notícia do jornal, mas nunca mais
o procurei. Sentia orgulho ferido pela atitude dele naquela época, sentia falta
do cara que me deu o mundo de presente
em uma única noite – e que ele nem sabia.
Fiz
questão absoluta de não contar a ninguém quem era o pai da Sophia, nem mesmo
Ana sabia, apesar das inúmeras perguntas e indiretas que dela recebi, sempre
mantive minha boca fechada quanto a este assunto. Há coisas que a gente guarda
sob sete chaves. Eu pretendia fazer isto com esta informação.
Já
tinha traçado o plano de como contar a Sophia sobre o pai quando chegasse o
melhor momento: “Seu pai foi um cara que eu conheci, um cara que passou pela
minha vida tão rápido e que perdi o contato com ele. O nome dele era Alessandro
(não precisaria dizer o sobrenome) e não o vejo desde que nos separamos na
noite em que você foi concebida.”
Seria
fria, direta, objetiva e não permitiria maiores questionamentos.
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