Mas
as coisas acontecem como tem que acontecer, e o destino ou a vida cobra um
preço alto demais da gente. Sem dar trela pro que achamos ou pretendemos fazer,
entre em nossas vidas, muda o rumo delas e depois nos convida a rir ou chorar,
sem pena do que acontecerá.
Pois
bem, dias após o aniversário de cinco anos de Sophia comecei a notar que ela
estava diferente. Mais lenta, mais sonolenta, não raro dormia na sala de aula,
perdeu o apetite, até mesmo o chocolate que era um problema entre nós, ela
vinha recusando.
Até
mesmo minha mãe, que não tinha muito tempo pra ficar com ela, havia notado que
algo estava estranho:
-
Sophia anda dormindo demais, você não acha? Antes ela entrava pela porta do
apartamento feito um furacão, mas nos últimos dias, chega dormindo da escola,
não come, reclama de dor na barriga. O que será que está criança tem?
-
É eu também notei isto, notei que tem algo diferente com ela. Já não fala pelos
cotovelos como antes, não espalha brinquedos pela casa. Vou marcar um médico.
E
naquele momento senti que deveria fazê-lo brevemente. Assim, no dia seguinte a
levei ao médico, que me pediu uma bateria de exames. Cada um com um nome
diferente, cada um com um sistema diferente. E a minha preocupação ia
aumentando.
Foquei
no trabalho e nela, somente pra não pensar no resultado dos exames. Só que era
inevitável, eu tinha que ir ao médico e ouvir o que ele tinha para me dizer.
-
Linda, não tenho uma notícia boa pra te dar. Sou médico e a minha profissão
exige que eu seja direto e objetivo. Mas Sophia está com Leucemia.
Naquele
momento meu mundo parou. Senti o chão rodar, vi que me faltava apoio. As palavras do médico estavam girando
em minha mente.
Eu
deveria ter desconfiado quando ele solicitou um exame chato, dolorido e
complicado de coleta de material da medula óssea. Mas eu não queria ver, não
podia ver.
Foram
horas digerindo o que ele falou em tão poucas palavras. E finalmente, decidi
que faria o que estivesse ao meu alcance para salvar minha filha.
Comecei
uma campanha para obter prováveis doadores e todos os procedimentos que os
médicos determinaram, foram feitos.
Eu,
minha mãe, meus irmãos, amigos, amigos dos amigos, meu ex-marido com sua nova
família, todos foram sendo testados... um a um sendo descartados.
Passamos
a fase do banco de medula óssea, vários foram selecionados, mas nenhum
apresentou o resultado esperado por nós.
Minha
família acompanhava com ansiedade e com tristeza cada mudança que ocorria em
Sophia. Cada pessoa que se propunha a doar a medula era pra gente um novo grão
de esperança, que fenecia ao sair o resultado.
Em
meio a minha agonia, sentada no quarto do hospital ouvindo o médico dizer que o
transplante era a nossa única salvação, ouvi minha mãe falar claramente, o que
vinha há muito tempo ruminando:
-
Linda, chegou a hora. Eu sei que você não quer procurar o pai da Sophia, sei
que você prometeu a si mesma não mais tocar no nome dele ou procurá-lo. Mas
agora não é por você, é por ela. Sei que você é uma mulher reservada, de poucos
namorados, sempre o foi. Até desconfio que além do pai da Sophia você só teve o
seu ex-marido. Querendo ou não, a solução do problema está nele, está com ele.
Quem é ele, Linda?
-
Sim, nós temos que procurá-lo. Não é justo com a Sophia nesta hora triste não
poder contar com o apoio dele. E, mesmo que ele seja um idiota, não é justo com
ele não saber que tem um anjo como ela, que é parte dele. Completou Ana, como
se aquilo fosse o fim da conversa, como se tudo já estivesse decidido e que eu
iria atrás de Alessandro.
O
médico oncologista que acompanhava Sophia, vendo o cerco familiar se fechando
sobre mim, me levou para tomar um café e conversar comigo em reservado –
definitivamente, não recordo o nome dele, mas recordo cada palavra que ele me
disse aquele dia:
-
Linda, minha querida, ouvindo sua mãe e sua irmã falando, pensei em algo que
talvez não seja muito ético, mas que poderá ter dar uma luz.
-
O que doutor? E enquanto ele olhava pra mim, via que eu teria que enfrentar o
leão chamado Alessandro muito em breve.
-
Procure o pai da sua filha. Conte a ele que você tem uma criança, conte a ele
que você precisa que ele faça a tipagem para sabermos se ele é combatível ou
não. E caso ele seja, contamos a verdade a ele. Se não quer contar a ele que é
o pai da Sophia, só faça se não houver outro jeito, mas procure ele. Se ele não
for o doador, teremos uma pequena chance que alguém na família o seja.
Sai
de lá desorientada, voltei pro quarto que Sophia ocupava no hospital e comecei
a olhar, fiquei analisando seu rostinho, suas mãos lindas. E meio sem saber o
porquê liguei a televisão.
Para
minha surpresa, lá estava Alessandro. Todo sorridente, todo feliz, aquele
sorriso que ia até aos olhos mais azuis que eu já
tinha visto. Falava sobre uma nova conquista, um novo empreendimento. E parecia
que tinha conquistado o topo do Everest.
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